sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Pequenas coisas – 5.

Consumação mínima de hipocrisias.
(Adriano Mariussi Baumruck).

Texto dedicado as estranhas coisas que nos acontecem com data marcada (e no final do ano).

Andando pela cidade, logo sou violentado por um batalhão sanguinário de luzes brilhantes,de brilhos ofuscantes e de cores que de tão fortes e certas, me entontecem. Ao longe vejo figuras imensas que disputam espaço com os arranha-céus e andaimes; são animais disformes de um zoológico bizarro, que recebem a visita de anjos nefastos e de velhos, que com suas caras psicoticamente boas e sorrisos largos – canibalescos - , vigiam a tudo e todos com seus olhos parados,vidrados e repressores. Sinto, que no fundo,tudo isso tem como base a transmissão de uma única mensagem, mas qual?

Volto-me para o lado e olho para a vitrine de uma daquelas grandes magazines que parcelam televisões, freezers, fornos... e até a felicidade em infinitas vezes, dando condições para que qualquer diabo possa sentir-se um pouco mais abençoado. Nesse meio as pessoas passam sorridentes e apressadas. São sacolas e mais sacolas e mais sacolas. São presentes pequenos, grandes, caros, baratos, vagabundos ou não que tentam suprir a carência pendente, mas repleta de ausência .Nossa, será que alguém realmente muito importante fez aniversário esses dias? Será um artista? Bom... eles seguem com sua consumação mínima de hipocrisias embrulhadas para presentes, mas pra quem?

Caminho mais um pouco e resolvo tomar um café. Reparo que eu sou o único que não está acompanhado por uma matilha de sacolas vorazes, nem ensopado por uma sensação enfadonha que tem como resultado um sorriso patético no rosto. Eu só quero tomar meu café! O lugar está mais lotado do que de costume, deve ser por causa das férias escolares e das firmas. Tudo e todos estão extremamente arrumados e educados. Não estou sonhando! Continuo no Brasil, em São Paulo. Estou tomando um café na Avenida Paulista e logo o atendente do estabelecimento se dirige a mim e diz “Deseja alguma coisa, senhor?” .Antes, nunca que alguém iria se dirigir para mim dessa forma; para tal, eu teria que implorar, que suplicar.

Tomo meu café e ao pagar a conta, aquele mesmo atendente que havia me tratado com toda a pompa possível, termina seu tratamento dizendo “Volte sempre senhor, tenha um feliz Natal!”.Pronto, a ficha caiu. Pin! É Natal! Agora, toda essa monstruosa sensação de pequinês que vinha me enlaçando por todo o trajeto passa a tomar forma e a fazer sentido.

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