domingo, 18 de setembro de 2011

Fragmentos - 1.

Sobre cafés e cigarros.
(Adriano Mariussi Baumruck)

Quando entrei, logo senti o cheiro forte de café e nicotina que empesteava o local. Era uma espelunca escondida em um subsolo de um prédio. Um dos poucos lugares que ainda se podia fumar sem ser atormentado.

Dentre algumas mesas de toalha xadrez encontrei-o. Fui até ele e sentei-me. Quando cheguei ele estava sentado curvado sobre a mesa. Acendia mais um Marlboro vermelho e logo foi me dizendo:

- Se quiser pedir alguma coisa, vá de café... a comida daqui é uma bosta! Deu uma longa tragada no cigarro e repousou a mão entre o maço e as xícaras de café que estavam sobre a mesa. Deviam ser umas cinco ou seis, não me lembro ao certo.

- E ai, o que vai querer? Disse uma moça que estava de pé ao meu lado. Quando olhei para cima não me lembro de ter visto seu rosto. Aquela fumaça o cobria. Pedi um café e ela se afastou. Todo aquele lugar me fazia tomar um fôlego poluído e de difícil compreensão. Estranhamente, ele me era muito agradável.

Posicionei-me melhor na cadeira e pergunte:

- Posso pegar um? Disse eu apontando para o maço vermelho de cigarros. Você fuma? Não, eu respondi. Ele arrumou-se, jogou seu tronco para frente e dando-me um cigarro falou:

- Sabe de uma coisa ? ... cigarro não mata... não... não mata. O que mata é stress, contas para pagar, assaltos e Derby. Isso sim mata, o resto... não. Olhei espantado para ele e com um riso meio atravessado continuou. Gainsbourg fumava Gitanes. Viveu sessenta anos e morreu de ataque cardíaco. Tá bom que o filho da puta fumava desgraçadamente, porém, só comeu mulher gostosa a vida inteira. Ele bem que poderia ter morrido de alguma doença venérea, mas se foi o cigarro, paciência, coincidências acontecem...

A moça se aproximou e colocou a xícara sobre a mesa. Olhei seus olhos e pude reparar que lindos olhos verdes ela tinha. Olhei-a por um longo tempo.
-Gostou dela? Disse ele. Sim... é muito bonita. Thalma tem muitos artifícios, além de fazer um ótimo café. Esse tipo de mulheres têm muitos pontos comigo, disse ele completando.

Eu não costumava fumar, mas já estava indo para o meu segundo cigarro. O tempo passa muito depressa quando temos uma boa conversa. É fato que eu mais ouvi do que falei naquele dia. Gosto de conversas assim. Acredito que minhas opiniões não são muito interessantes. Acendi mais um.

No fim eu acho que me acostumei ao lugar. Era tanta fumaça; era uma realidade bem particular. Parecia um daqueles filmes em preto e branco que recorta um momento do cotidiano e o expõe, sem explicação, nem começo, nem final; apenas o corte exposto, sangrando e pulsando.

As pessoas se desenvolviam em estereótipos diferentes, tentando sempre se defender dos olhares hostis. Quem nunca tentou fazer isso, se esconder por detrás de uma cortina, tentando passar como despercebido, como normal? Quem nunca fez isso?

Sei que quando eu sair por aquela porta, após subir esses degraus e me despedir desse velho amigo, nada mais disso existirá. O cigarro se apagará e tudo voltará a realidade. Sobrará somente o cheiro e um leve torpor; o coração batendo à mil e a realidade. Por isso, continuo aqui fumando, tomando meu café, vendo o tempo passar e meus pensamentos se embaralharem, além de fazer parte desse prazeroso monólogo.

domingo, 4 de setembro de 2011

para uma semana de folga.

Minha cesta.
(Adriano Mariussi Baumruck)

Estou largado ao sol.
Nada acontece
E o tempo teima em passar.