sábado, 23 de janeiro de 2010

Zoo.

A ZEBRA.
(Adriano Mariussi Baumruck)

Preto e branco...
Preto e branco...
Os brancos dominam os pretos,
Mas são todos animais.

Preto e branco...
Preto e branco...
Os pretos matam os brancos,
Mas são todos animais.

O mundo colorido deteriora-se ao vivo;
Em cada esquina
Um preto morre,
Um branco morre.

O mundo morre em cada pensamento racista.
O racismo aparece em cada pensamento anti-racista.

Sigamos marchando!
Socialistas!
Imperialistas!
Capitalistas!
Hipócritas!
Só não se esqueçam que somos todos animais
Pretos e brancos...
Pretos e brancos...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Autoconhecimento – parte 01 - Eu.

I - Solidão.
(Adriano Mariussi Baumruck)
 


A vista turva,
O gosto amargo,
O relógio parado
E a vida.

O dia passa,
A noite chega
E nada acontece.

Angústias,
Desespero
E a cabeça vazia,
Perdida em pensamentos.

Uma vida sem sentido
Que só deixa:
A vista turva,
O gosto amargo,
E o relógio parado.

II - Madrugada.

O silêncio,
Meus pensamentos,
Meu encontro.
Minhas emoções partidas
Formam o caco de minha vida,
Ou o que restou dela.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Contos Malditos ( 1 ).


O encontro.
(Adriano Mariussi Baumruck).


Era uma manhã tranqüila, a cidade estava acordando,aquecendo seus motores para mais um longo dia de trabalho.As 24 horas eram sempre iguais, com seus mesmos minutos, mesmos segundos, mas com fatos distintos e as vezes inacabados.

O dia estava agradável,os raios de sol mostravam no horizonte o contorno daquela espécie de cemitério composto por prédios de formas geometricamente perfeitas,mas pontuado por pessoas moralmente corrompidas, que começavam a sair de seus ninhos.Para elas, nem todo dia era um belo dia.

Para os animais, o dia já havia começado há horas e a praça continuava quieta,sombria e bela.Os pássaros aglomeravam-se nas arvores floridas,para assim, sentirem melhor seu perfume ou pegar alguma migalha dos raios que esquentavam suas penas.

A relva tornava-se cada vez mais verde com o passar das horas;e assim o dia continuava.

Na beira do lago, o banco até então vazio, recebe a companhia de um senhor cego que adorava , assim como os pássaros, sentir o calor dos raios solares pela manhã.

Pena não poder ver o sol... mas senti-lo já é uma dádiva, dizia o senhor ao acomodar-se.
Sabia que nunca mais iria poder ver a natureza, a cidade, ou qualquer coisa do mundo, mas não se amedrontava, enfrentava a vida com toda a força que lhe cabia.Adorava caminhar por aqueles campos, mesmo com dificuldade,para depois descansar naquele velho banco.Achava que assim a vida passava mais devagar e que atrasava a chegada da morte.

Nunca temeu nada,nem vivo,nem morto.Achava que temer as coisas era fazer-se pequeno diante do mundo e,com isso,acreditava que tudo tinha um propósito de ser.

O único fato que lhe assombrava era que sentia-se sozinho naquele lugar.Eram poucas as pessoas que passavam por ali;aliás, eram poucas as pessoas que paravam para contemplar a vida.

Já que ela passa tão rápido,e que os dias,dentro de seus fatos estranhos são sempre iguais,acreditava que um ser humano são,deveria desperdiçar algum tempo para sentir a vida passar.O vento toca os cabelos,assim como a vida segue,levando tudo o que acontece.

Nesse dia, ele sabia que não estava sozinho.Mesmo que sentir-se só naquele lugar o incomodasse profundamente,pensar na presença de um desconhecido o deixava preocupado e curioso.Poderia ser uma boa companhia,mas o que iriam querer com um velho cego?Nada de pior poderia acontecer.
E se fossem más pessoas?

-Não sei... sentia a presença de alguém, ou dealgum grupo, mas não sabia quem eram ou onde estavam.
A Morte era sua fiel companheira.Havia escapado do ceifado várias vezes,por isso julgava-se ser um homem de sorte.Onde já se viu um cego fugir da morte? Por isso,não a temia;sabia que esse era um final para todos nós e, que junto com ela,além da dor,vinha a paz.

Muitos românticos pagam caro por esse estado de paz,embarcando assim em uma viagem sem volta.Invejava os suicidas pela coragem, a qual ele nunca teve.

Nunca havia amado,mas conhecia esse sentimento das inúmeras músicas que ouvira e dos vários livros que lera antes de ficar cego.Não se acostumava com o braile,aqueles pontos o incomodavam, e além do mais,ele não conseguia imaginar as coisas com as pontas dos dedos.Meus olhos estão na cabeça e não nas mãos.A música sim era sentida com o corpo inteiro e com a alma.


Ele só não sabia que presentes neste lugar, estavam , um casal que se suicidara ao lado do banco.
Se pudesse ver,notaria a beleza de tal tela viva.O sangue de ambos parecia um rio que desbravava a mata virgem até desaguar no mar das emoções não concretizadas.O vermelho refletia o brilho do céu e a luz do mundo.

Os corpos enroscavam-se,rosavam-se e acariciavam-se em uma experiência única.Um prazer divino parecia ter tomado conta dos dois, e o corpo sucumbido a tal acontecimento.

A face de ambos mostrava a serenidade angelical do amor,junto com a alegria diabólica da paixão.Ambos sorriam.As cabeças abertas eram a nascente do rio que corria mata à fora.

A arma descansava ao lado dos dois,ela havia trabalhado muito na noite anterior.Duas balas certeiras levaram duas vidas jovens para o outro lado.

A relva tornava-se cada vez mais verde com o passar das horas e assim o dia continuava.