terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Espelho d'água.


Transcomunicação.

(Adriano Mariussi Baumruck)

Provérbios 15,4: "O falar amável é árvore de vida, mas o enganoso deprime o espírito."


Quando ela, no meio da noite escura, da música alta e das duas doses de uísque colocou a mão em meu rosto e disse:

-Eu sei disso, eu te conheço...

Meu corpo foi jogado das alturas mais inimagináveis, até as profundezas mais sórdidas da natureza humana. Minha queda foi acelerada e mortal. O espelho d'água de outrora tornara-se pedra, asfalto quente. E aquela mão que parava tudo e todos, seria minha cruz.

Quando ela repousou sua mão em meu rosto e disse suas palavras sábias, eu pude reparar o quanto eu não me conhecia, mas me entendia. A imagem do espelho d'água era notoriamente compreendida e conhecida por mim; porém, como aquele que não olha a própria sombra, eu a negava.

- A escrotidão! Dizia eu. A escrotidão... Quanto mais eu vejo essa qualidade nas pessoas, mais eu a observo e estudo, e por ventura, sorvo partes de corpos alheios. Essa pedra tão rara me encanta e me estraga...

Enquanto eu dizia isso, sua boca se abria em um confortável sorriso. Seus olhos riam também. Eu me via neles, eu me via nela. Via o quanto eu me amarrava à questões preconceituosas e a falsos paradigmas, inventados única e exclusivamente por mim. Via-me em seus olhos. Via minha alma e toda minha vontade. Nesse momento, toda minha embriaguez havia passado.

Quando eu terminei tal discurso embriagado, notei que todas as verdades e pudores que eu guardava cancerigenamente, estavam balançando e dançando sobre aquela mesa. Eu estava mais leve e pude aproveitar, mesmo que brevemente do abraço e da vontade de permanecer para sempre que estavam por vir.

Hoje, quando eu me lembro, sinto o fantasma da mão em meu rosto e uma voz doce que canta em meus ouvidos dizendo:

-Eu sei disso, eu te conheço...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Para aqueles que eu mais gosto!

Meus.
(Adriano Mariussi Baumruck)

As pedras são minhas,
Os caminhos são meus,
As lágrimas são minhas
E a decepção também.

As horas são minhas,
Os tremores são meus,
As noites mal dormidas são minhas
E a depressão latente também.

A arma é minha,
A paz é minha,
A vontade de viver é minha
E a vontade de morrer também.

O ferimento é meu,
O peito é meu,
O suor que corre é meu
E o sangue também.

As palavras são minhas,
A boca é sua,
O beijo guardado é seu
E meu coração também.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Um bilhete para Machado de Assis.

A redução do sádico.
(Adriano Mariussi Baumruck)

A natureza.
Calígula.
Eu.

O universal.
A história.
O indivíduo.

O rato se retorce
Com a única pata
Restante.

O fogo cauteriza
Sua inestimável
Dor

E um sorriso
Se abre na face
Do homem.