terça-feira, 2 de junho de 2009

Poesia vermelha.


Ao mestre soviético.

Bom pessoas , há um tempo que sou fascinado pela Rússia. O país tem uma cultura muito esquecida pelo mundo , visto que se fechou com uma grande cortina de aço , que alienou grande parte da população local.

O clima extremamente frio , ao meu ver , não fez com que as pessoas assim ficassem , uma vês que um dos movimentos mais acalorados da história – o socialismo – teve na terra dos Czares seu berço.

Outra coisa que me encanta , é o dialeto russo. Parecem códigos. A fala , parece algo de outro mundo e, realmente é.

É um mundo a parte , com uma maneira singular de encarar os fatos do cotidiano.
Já faz um tempo , que pelas forças do destino , caiu em minhas mãos um livro de um poeta dessa terra tão fria. Fiquei logo muito entusiasmado.

Foi até que engraçado , eu não sabia ler direito o nome do poeta , era uma junção de sílabas muito estranhas para mim , mas continuei em minha labuta.

Após descobrir que o poeta chamava-se Vladimir Maiakóvski , - não que eu não soubesse , mas demorei para poder ler seu nome corretamente – comecei a escavar a mina de sua obra , que para mim , (um pobre leitor que opta pela inovação , mesmo não sendo essa tão nova)vem se mostrando uma fonte inesgotável de inspiração , qualidade e paixão pelo fazer poético.

Separei então , um breve histórico sobre ele e alguns poemas de sua autoria.


Histórico:

Vladimir Maiakovski nasceu e passou a infância na aldeia de Bagdadi, nos arredores de Kutaíssi, na Geórgia, Rússia.

Lá cursou o ginásio e, após a morte súbita do pai, a família ficou na miséria e transferiu-se para Moscou, onde Vladimir continuou seus estudos.

Fortemente impressionado pelo movimento revolucionário russo e impregnado desde cedo de obras socialistas, ingressou aos quinze anos na facção bolchevique do Partido Social-Democrático Operário Russo.

Detido em duas ocasiões, foi solto por falta de provas, mas em 1909-1910 passou onze meses na prisão. Entrou na Escola de Belas Artes, onde se encontrou com David Burliuk, que foi o grande incentivador de sua iniciação poética. Os dois amigos fizeram parte do grupo fundador do assim chamado cubo-futurismo russo, ao lado de Khlebnikov, Kamiênski e outros. Foram expulsos da Escola de Belas Artes. Procurando difundir suas concepções artísticas, realizaram viagens pela Rússia.

Após a Revolução de Outubro, todo o grupo manifestou sua adesão ao novo regime.

Durante a Guerra Civil, Maiakovski se dedicou a desenhos e legendas para cartazes de propaganda e, no início da consolidação do novo Estado, exaltou campanhas sanitárias, fez publicidade de produtos diversos, etc. Fundou em 1923 a revista LEF (de Liévi Front, Frente de Esquerda), que reuniu a “esquerda das artes”, isto é, os escritores e artistas que pretendiam aliar a forma revolucionária a um conteúdo de renovação social.

Fez inúmeras viagens pelo país, aparecendo diante de vastos auditórios para os quais lia os seus versos. Viajou também pela Europa Ocidental, México e Estados Unidos. Entrou freqüentemente em choque com os “burocratas’’ e com os que pretendiam reduzir a poesia a fórmulas simplistas.

Foi homem de grandes paixões, arrebatado e lírico, épico e satírico ao mesmo tempo.
Suicidou-se com um tiro em 1930.

Obra:

Sua obra, profundamente revolucionária na forma e nas idéias que defendeu, apresenta-se coerente, original, veemente, una. A linguagem que emprega é a do dia a dia, sem nenhuma consideração pela divisão em temas e vocábulos “poéticos” e “não-poéticos”, a par de uma constante elaboração, que vai desde a invenção vocabular até o inusitado arrojo das rimas.

Ao mesmo tempo, o gosto pelo desmesurado, o hiperbólico, alia-se em sua poesia à dimensão crítico-satírica. Criou longos poemas e quadras e dísticos que se gravam na memória; ensaios sobre a arte poética e artigos curtos de jornal; peças de forte sentido social e rápidas cenas sobre assuntos do dia; roteiros de cinema arrojados e fantasiosos e breves filmes de propaganda.

Tem exercido influência profunda em todo o desenvolvimento da poesia russa moderna.

Poemas:


A FLAUTA-VÉRTEBRA

A todas vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e
[ celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.

Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.

Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.

1915

(Tradução: Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman)

E então, que quereis?...

Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?

O mar da história é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.

(1927)

Tradução: E. Carrera Guerra
In Maiakóvski — Antologia Poética,
Editora Max Limonad, 1987

O poeta-operário

Grita-se ao poeta:
"Queria te ver numa fábrica!
O que? Versos? Pura bobagem".
Talvez ninguém como nós
ponha tanto coração
no trabalho.
Eu sou uma fábrica.
E se chaminés
me faltam
talvez seja preciso
ainda mais coragem.
Sei.

Frases vazias não agradam.

Quando serrais madeira
é para fazer lenha.
E nós que somos
senão entalhadores a esculpir
a tora da cabeça humana?

Certamente que a pesca é coisa respeitável.

Atira-se a rede e quem sabe?
Pega-se um esturjão!
Mas o trabalho do poeta
é muito mais difícil.

Pescamos gente viva e não peixes.

Penoso é trabalhar nos altos-fornos
onde se tempera o ferro em brasa.

Mas pode alguém
acusar-nos de ociosos?

Nós polimos as almas
com a lixa do verso.
Quem vale mais:
o poeta ou o técnico
que produz comodidades?
Ambos!

Os corações também são motores.

A alma é poderosa força motriz.

Somos iguais.

Camaradas dentro da massa operária.
Proletários do corpo e do espírito.
Somente unidos,
somente juntos remoçaremos o mundo,
fá-lo-emos marchar num ritmo célere.

Diante da vaga de palavras
levantemos um dique!
Mãos à obra!

O trabalho é vivo e novo!

Com os oradores vazios, fora!

Moinho com eles!

Com a água de seus discursos
que façam mover-se a mó!

(Adriano Mariussi Baumruck)

2 comentários:

  1. Adriano, bom dia!
    Agradeço sua visita e gentil comentário no meu blog Jardim de Poesia.
    Adorei o seu espaço e já me inscrevi como seguidora. Certamente aqui vierei diversas vezes. Abraços,
    Andréa

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  2. Muito bom encontrar Maiakóvski por aqui.

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