domingo, 26 de fevereiro de 2012

Fragmentos - 3.

Tudo o que eu não fiz.
(Adriano Mariussi Baumruck)

- falta 1 hora -

As pessoas correm pelas ruas, a energia acabou já faz 24 horas, eu uso o resto de bateria do meu notebook e tento fazer uma lista de todas as coisas que eu fiz e que não fiz. A segunda cresce desenfreadamente! Um estado catatônico me deixa imóvel na cadeira, com o cigarro na mão e a cabeça cada vez mais longe. Sei que daqui há uma hora tudo acaba, puta que o pariu... e dessa forma, a lista das coisas que eu não fiz irá se fundir com o meu ser e dessa maneira, seremos um único monte de poeira.

- faltam 45 minutos -

Vagarosamente começo a movimentar meu dedo no braço da cadeira: para cima e para baixo; para cima e para baixo. O último cigarro já foi, as cinzas já estão no chão e a bituca queima meu dedo, mas meus olhos se arregalam ainda mais. A lista dos meus “não atos”, ou a dos “não acontecimentos de minha vida” crescem e tomam conta de absolutamente toda minha cabeça. Minha mandíbula range. Aperto a mão no braço da cadeira. Encaro a tela do computador. Uma agonia começa a descer como um derrame por toda minha face, tomando meus braços, tronco e pernas.

- faltam 30 minutos –

No computador é agora o descanso de tela quem entra em ação. Sempre adorei a praia, meus pais me levavam para Comandatuba na Bahia para passar o Natal e o Ano Novo. Todos nos vestíamos de branco para esperar a hora de fazer novas promessas e de chegar a nova esperança. Hoje, estou aqui. Foto dos amigos. Foto dos amigos. Foto das paisagens e países que eu queria ter conhecido. Mulheres nuas aparecem no fim da sequência; homenageei muitas, outras eu colocava como objeto de desejo e outras eu só coloquei pois achava bonita a foto. Agora, estou aqui.

- faltam 15 minutos –

Os barulhos lá fora já sessaram. O céu parece clarear. Após o descanso de tela, o computador entra em uma tela preta que funciona como um espelho. Lá, me vejo desfigurado: olhos arregalados, barba por fazer e suando litros e litros, esvaindo-me, assim como todos que por hora parecem se aquietar. As pessoas que cultivaram suas ganancias tornam-se iguais as que forma medíocres a vida toda. Agora, todos nós somos cães que correm atrás de nossos rabos, esperando unicamente que o universo tenha piedade.

Olho para o lado. Um imenso clarão começa a se abater sobre os prédios e tomar tudo o que encontra pela frente. Abaixo minha cabeça, coloco-a entre minhas mãos. Uma lágrima cai no assoalho e toda a existência é devastada.

3 comentários:

  1. a terrível e dolorosa espera do fim
    [às vezes parece que a vida é só isso]
    outras não

    abraço
    LauraAlberto

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  2. Muito bacana, meu caro mais-que-sumido bom universitário: remontou-me diretamente ao antigo e debochado "Guia dos mochileiros da galáxia" e ao recente e profundo "Melancolia".

    Se fosse comigo, ficaria na janela esperando o clarão chegar e ver o fim de camarote: se este é inevitável, para que o desespero (e, uma vez que este será comum a todos, no que seria diferente o meu fim dos outros para que eu aquiescesse com alguma agonia qualquer e inócua?)?!

    Meu abraço e, bem, sei que não vai acontecer, mas... Apareça, ré, ré!

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  3. Olá, tudo bem?!
    Adorei o seu blog e, assim que puder, dá uma passadinha lá no meu? E se você gostar pode deixar comentários e me add também!!!abraços A.I.L

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