sábado, 27 de novembro de 2010

Violentando.

Violenta declinação.
(Adriano Mariussi Baumruck)

O verbo mais violento que eu conheço
É : você;
E logo eu faço dele meu longo e prazeroso
Suicídio.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Contos malditos - 3.

O último chamado.
(Adriano Mariussi Baumruck).

“Quando chegar eu telefonarei para você” ele disse.

As horas não passavam e a angústia da pobre jovem foi aumentando. Ela caminhava da cozinha para o quarto, arrumava a cama, as almofadas, a escrivaninha, os perfumes; do quarto para o banheiro, arrumava os vidros de remédios e pensava “E se ele não ligar... ai meu Deus!! E se ele não ligar...

Voltava para a sala.Ficava sentada, ou melhor, prostrada na frente do telefone.Suas pernas eram como um metrônomo sempre acelerado, sempre marcando o ritmo do tempo que não passava e de sua aflição, que cismava em aumentar.

O telefone cor de pele parecia rir da pobre criatura. Sua mudez desnecessária era alarmante. “Toca porra!! Vai ... toca!” ela gritava a plenos pulmões com a voz que oscilava entre cordas eufóricas e raivosas e lágrimas languidamente tristes. Só o silêncio lhe respondia.

Do lado de fora do sobrado, os pingos finos de um esboço de chuva começavam a banhar a calçada, o portão de ferro, já velho pelo tempo e corroído por antigas marcas cobres de chuvas e as flores. Tirando o barulho da chuva de gota-após-gota-após-gota-após-gota e a palpitação do coração aflito, o resto estava mudo.

As horas passavam arrastadas, a chuva aumentava gradativamente e nada do telefone tocar. A neurose da moça havia chegado a tal ponto, que ao fechar o janelão da sala, ela se debruçou sobre o parapeito e fora empurrada por um traiçoeiro vento brincalhão, leve e perverso que guiou seu corpo, bailou com ele pelo ar por um milésimo de segundo. Se alguém tivesse presenciado tal dança, teria se deleitado com a mais trágica aquarela que já existiu.

Seu corpo chocou-se com as lanças do portão que atravessaram-na. O sangue gotejava lentamente na calçada, contrastando-se com o cinza do asfalto. De um sangue intenso que saia da ferida, até chegar ao chão, tomavam-se como notas suaves os vários matizes rubros que pontuavam harmonicamente a cena.

Pendurada, as gotas da chuva banhavam seu rosto, suas mão, seu colo e seu vestido. Em um último movimento, ela levantou a mão ensopada de um tom róseo que era a mescla de sangue, chuva e lágrimas, e vendo a janela de sua casa de cabeça para baixo, disse:

- Se ele ligar, diga que eu o amo.

Mas só o silêncio a escutou.

domingo, 14 de novembro de 2010

Noites e noites!

Certa vez.
(Adriano Mariussi Baumruck)

Certa vez,
Durante uma noite solitária
Uma mulher veio até mim e disse:
- Decifra-me ou devoro-te!

Bom...
Quando amanheceu
Não sobrou carne nem osso;
Mas somente essa piada trágica para contar história.